PT abre mão de prefeituras em 13 capitais, apoia aliados ao centro e encara própria rejeição
À frente do governo federal com Luiz Inácio Lula da Silva, o PT não repetirá nas eleições de outubro a estratégia de outras disputas municipais desde que seu principal líder ocupou pela primeira vez o Palácio do Planalto.
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Para 2024, o partido decidiu abrir mão de lançar candidatos em 13 capitais, onde apoiará aliados. Há quatro anos, por exemplo, foram 21 candidaturas próprias em 26 capitais — e só uma vitória.
O site IstoÉ levantou as candidaturas e alianças do petismo para este pleito e ouviu três cientistas políticos para entender o que mudou na postura da legenda no período.
Candidaturas próprias
– Aracaju: Candisse Carvalho;
– Belo Horizonte: Rogério Correia;
– Campo Grande: Camila Jara;
– Cuiabá: Ludio Cabral;
– Florianópolis: Vanderlei ‘Lela’ Farias;
– Fortaleza: Evandro Leitão;
– Goiânia: Adriana Acorsi;
– João Pessoa: Luciano Cartaxo;
– Manaus: Marcelo Ramos;
– Natal: Natália Bonavides;
– Porto Alegre: Maria do Rosário;
– Teresina: Fabio Novo;
– Vitória: João Coser.
Apoios definidos
– Belém: Edmilson Rodrigues (PSOL);
– Boa Vista: Mauro Nakashima (PV);
– Curitiba: Luciano Ducci (PSB);
– Macapá: Paulo Lemos (PSOL);
– Maceió: Rafael Brito (MDB);
– Palmas: Junior Geo (PSDB);
– Porto Velho: Célio Lopes (PDT);
– Recife: João Campos (PSB);
– Rio Branco: Marcus Alexandre (MDB);
– Rio de Janeiro: Eduardo Paes (PSD);
– Salvador: Geraldo Júnior (MDB);
– São Luís: Duarte Jr. (PSB);
– São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL).
Acordos heterogêneos
Nas concessões feitas pelo PT em capitais, é possível encontrar formatos diferentes de alianças. Em Belém, por exemplo, o partido já ocupa a vice de Edmilson Rodrigues, e o próprio prefeito governou a cidade anteriormente como petista.
Já o apoio a Guilherme Boulos representa a primeira vez em que a legenda deixa de ter candidato em São Paulo desde a redemocratização, mas atende a um acordo fechado em 2022 — quando o psolista desistiu de disputar o governo estadual para apoiar Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda — e envolveu a refiliação da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) para compor a chapa.
Um ineditismo também ocorre no Recife, onde uma aliança anos atrás improvável entre o petismo e a família Campos culminou no endosso à reeleição de João Campos. Embora o PT tenha pleiteado espaço na chapa, o prefeito não cedeu espaço à legenda e optou por Victor Marques (PCdoB), seu amigo e braço direito.
Motivos da mudança
Os acordos selados alteram o curso de uma agremiação que, mesmo sob a devassa da Operação Lava Jato, no pleito de 2016, e ainda no calor da eleição presidencial de Jair Bolsonaro (PL), no de 2020, não abriu mão do protagonismo pelo comando das capitais.
A mudança na estratégia teve interferência da direção geral do partido, que promove esforços para ampliar o arco de alianças do presidente Lula e garantir governabilidade em Brasília — mesmo que isso custe espaço a líderes locais.
Em Maceió, por exemplo, a cúpula nacional contrariou decisão do diretório municipal e interviu para garantir apoio a Rafael Brito (MDB), aliado e colega de partido do senador Renan Calheiros (AL), sem sequer ocupar a vice na chapa — cenário que se reproduz em oito das 13 capitais em que apoia aliados.
“Chefiar o governo federal sem ter maioria parlamentar demanda fazer mais concessões nas eleições municipais, para conquistar ou recuperar apoios no Congresso”, disse ao site IstoÉ Marco Antônio Teixeira, professor e coordenador do mestrado em gestão e políticas públicas da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas).
Para Karolina Roeder, professora de ciência política da Uninter e pesquisadora do INCT ReDem, a construção de alianças municipais também tem como pretexto garantir palanques para 2026. “O partido se preocupa em fortalecer relações com partidos como MDB e PSD porque eles devem eleger muitas prefeituras”, disse ao site IstoÉ.
Ao contrário das outras vezes em que Lula e mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) passaram por eleições municipais mirando um novo mandato, o partido não é mais predominante a nível nacional, como lembrou a cientista política: “O PT saiu fragilizado das eleições de 2020 e, ainda que ocupar o governo federal dê força eleitoral, ela está menos concentrada no próprio petismo e mais dividida em outros grupos políticos que formaram a ‘frente ampla’ em 2022”.
Renato Dorgan, cientista político e presidente do instituto de pesquisas Locomotiva, avaliou que a perda de domínio reflete uma crise de popularidade da esquerda como um todo, que fica evidente nas votações municipais — na eleição presidencial, disse ele, a rejeição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu outro contorno ao embate.
“Pesquisas qualitativas demonstram um enfraquecimento da esquerda como opção para administrar as cidades. A rejeição a Bolsonaro é grande, mas o discurso conservador e os administradores de direita seguem populares”, afirmou ao site IstoÉ.
Até por isso, a flexibilidade nos acordos não se restringiu ao petismo: “Mesmo o bolsonarismo fez alianças mais amplas”, destacou Teixeira. Em São Paulo, por exemplo, o PL definiu apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e Bolsonaro emplacou um aliado, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), como candidato a vice.
Leonardo Rodrigues/ISTOÉ
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