Política

Número de cidades comandadas pela esquerda desaba em 12 anos e impõe desafios aos partidos

Partidos progressistas enfrentam dificuldade em conectar-se com demandas emergentes, como mudanças no mercado de trabalho e valores conservadores.

Após a vitória do PT nas eleições presidenciais de 2022, a presença do partido nas prefeituras ficou distante do que já foi no passado. Assim como o PT, outros partidos de esquerda também perderam representatividade nos municípios ao longo dos anos.

Desde 2012, o número de cidades comandadas pelas principais legendas progressistas do país foi reduzido pela metade, levantando discussões sobre os valores do eleitorado e os desafios enfrentados pela esquerda. Os dados foram levantados pelo Jornal O Globo. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta-feira, reconheceu a necessidade de repensar o papel do PT nas eleições.

No início da década passada, o governo Dilma Rousseff gozava de grande popularidade e o cenário político era diferente, sem a reconfiguração trazida pelas emendas parlamentares. Naquele momento, partidos como PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL juntos conquistaram 1.468 prefeituras, a maioria sob o comando petista. Atualmente, esse número caiu para 724, enquanto o PSD, líder no número de prefeituras, sozinho conquistou 878.

vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro em 2022 foi vista por alguns como um triunfo da esquerda, quando na verdade muitos dos eleitores do presidente possuem um perfil conservador. O cenário brasileiro reflete um fenômeno observado também em outros países, onde partidos progressistas têm dificuldade em se conectar com demandas emergentes da sociedade, como as mudanças no mercado de trabalho. No Reino Unido, por exemplo, os trabalhistas recuperaram terreno ao focar em questões cotidianas, deixando pautas identitárias em segundo plano.

No Brasil, a esquerda enfrenta o desafio de dialogar com um eleitorado cada vez mais influenciado por valores conservadores. As demandas reais da população, como emprego e renda, parecem ser mais urgentes do que discussões ideológicas, o que exige uma adaptação do discurso dos partidos progressistas.

CRESCIMENTO MODESTO 

Nesse cenário, o PT registrou um aumento modesto no número de prefeituras nas últimas eleições municipais, passando de 183 para 248. No entanto, o partido não conseguiu conquistar capitais importantes e agora aposta em disputas de segundo turno em cidades como Fortaleza, Cuiabá, Natal e Porto Alegre.

A eleição de 2020 já havia sinalizado uma dificuldade da esquerda em manter sua relevância no cenário político, e a disputa mais recente apenas reforçou essa tendência. O índice recorde de reeleição, com 81% dos prefeitos garantindo novos mandatos, foi influenciado pelas emendas parlamentares que irrigaram as administrações municipais, favorecendo a manutenção do status quo.

Por outro lado, exemplos de sucesso dentro do próprio PT mostram possíveis caminhos para o futuro do partido. Em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, a prefeita Marília Campos foi reeleita no primeiro turno com 60% dos votos, apesar da vitória de Bolsonaro sobre Lula na cidade nas eleições presidenciais. Crítica da estratégia atual do PT, Marília defende que o partido precisa se reconectar com os problemas reais da população e apresentar um projeto de futuro que vá além das discussões sobre polarização.

A falta de um discurso que dialogue com o eleitorado médio, especialmente em temas como empreendedorismo, tem sido um dos pontos fracos dos partidos de esquerda. Em um Brasil cada vez mais alinhado com valores individualistas e empreendedores, influenciado pelas igrejas neopentecostais, o PT e outros partidos progressistas enfrentam o desafio de adaptar suas mensagens para conquistar o apoio das classes populares.

A mudança na relação dos brasileiros com o trabalho é outro fator que contribui para o distanciamento entre a esquerda e parte do eleitorado. Antigas bandeiras sindicais parecem desconectadas da nova realidade, em que o empreendedorismo e a autonomia têm maior peso.

Fonte: MeioNews


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