A história do mestre de obras da Igreja Matriz de Picos: Quincas Albano
No trabalho, Quincas Albano foi um homem à frente do seu tempo, destacando-se em diversas profissões.
A história da construção da Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, com 2a a sua magnitude, teve a participação de várias famílias picoenses, uma história construída por muitas mãos. Nessa reportagem especial contamos a história das mãos talentosas de Joaquim Albano da Silva, conhecido na época com Mestre Quincas Albano.
No último sábado (05), a tradicional família, Albano, se reuniu para celebrar a data em que o patriarca da família completaria 122 anos e resgatar a história da sua participação na construção da igreja Matriz de Picos através de um documentário. O evento, marcado por muita emoção, reuniu familiares de várias partes do Brasil no Rotary Clube de Picos.
De acordo com representantes da família o objetivo do documentário é destacar “a participação do Mestre Quincas Albano, e de sua família, nessa grande e importante obra. E mostrar o que foi produzido por suas mãos ou através do seu comando. Uma forma de presentar àqueles que desconhecem os espaços que carregam sua marca, e eternizá-la, junto com a própria e linda história da Matriz de Picos”.
Joaquim Albano da Silva, Quincas Albano, nasceu no dia 02 de outubro de 1897, na localidade Curralinho, em Picos-PI, filho de Albano da Silva Fontes e Maria Madalena de Moura. Era o segundo filho de uma família de sete irmãos.
Quincó”, como assim era chamado por seu pai, cresceu entre as localidades Curralinho e Palmeira. Conta-se que Quincas Albano já carregava, na juventude, algumas marcas que o faziam destacar junto aos demais jovens de sua época. Além da elevada inteligência, era curioso, corajoso e a determinado.
Devido às dificuldades da época o jovem Quincas teve apenas um mês de aulas, mas sempre buscou saber o porquê das coisas, desvendar pequenos desafios e persistir em aprender como fazer algo – características de quem tinha uma inteligência diferenciada e aguçada – mostram que Quincas Albano já trazia consigo, desde muito moço, a semente, a qual com o passar dos anos floresceria e o transformaria em Mestre.
Mestre na Família
No dia 30 de novembro de 1923, Raimunda de Moura, aos 17 anos de idade, tornava-se sua esposa. Um casamento construído e firmado no amor, compreensão e companheirismo…e que duraria sessenta anos.
Da união com Mundica, como carinhosamente a chamava, vieram nove filhos(as): Maria da Silva Moura(in memorian) – primeira filha do casal, uma criança admirada por muitos pela extrema beleza, mas que permaneceria na esfera terrena somente até os dois anos de idade; Maria da Silva Moura(Mariinha / in memorian); José Albano de Moura (Zequinha); Expedito Albano de Moura; João Albano de Moura; Maria Vilani de Moura; Maria Veny de Moura (in memorian); Francisco de Assis Albano e Maria Vanilda de Moura.
Em todos os caminhos percorridos, o cuidado e a dedicação com Mundica e os filhos retratavam o seu amor pela família. Com a humildade que sempre lhe foi nata, conseguia, junto aos filhos, caminhar entre a doçura e o carinho paterno e a rigidez na cobrança pelos ensinamentos sobre decência, honestidade, educação, valores éticos, morais e cristãos.
MESTRE NO TRABALHO
No trabalho, Quincas Albano foi um homem à frente do seu tempo, destacando-se em diversas profissões. Exercendo-as com zelo, dedicação e responsabilidade. Em meados da década de 1930, Joaquim Albano da Silva, Quincas Albano, recebera a alcunha de Mestre pela primeira vez. Mestre-Escola é como eram chamados os professores da época.
Destacou-se também como Mestre de Obras. Possuidor de uma inteligência diferenciada e, por sempre estar à frente do seu tempo, Joaquim Albano da Silva, Quincas Albano, destacou-se, principalmente na área da construção civil. Profundo conhecedor de cálculos – pois era constantemente solicitado para fazer cálculos de tarefas de terra para serem trabalhadas na plantação, bem como para projetar engenhos de cana – passou a administrar grandes obras, ficando no comando das mesmas, como Mestre. E, pela segunda vez, torna a ser chamado de Mestre Quincas.
Homem de fé, trabalhou como Mestre de Obras na construção da Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, e foi sob o manto protetor de Nossa Senhora dos Remédios que Joaquim Albano da Silva, Quincas Albano, teve eternizada uma de suas obras mais sublimes: o emadeiramento do teto da Catedral que leva o nome da santa padroeira dos picoenses.
O trabalho despendido em prol da Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, no final dos anos 40, foi realizado com entusiasmo e fé, desde a compra da madeira (em inúmeras viagens realizadas à Bahia, especificamente para esse fim) até o desdobramento das demais etapas de trabalho, tendo como resultado final uma obra de arte nas alturas – emadeirada e emoldurada sob o seu comando de mestre.
Na etapa do emadeiramento do teto e construção das torres, teve como auxiliares seu filho João Albano e o amigo Francisco Antônio da Silva, conhecido como Chico Tibúrcio. O teto da Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, há quem diga, esconde um espetáculo em madeira de encher os olhos, mas que ficaria invisível, após ser encoberto pelo forro, etapa subseqüente da construção.
Ainda sob a proteção de Nossa Senhora dos Remédios, Mestre Quincas continuou seu primoroso trabalho durante a construção da Igreja Matriz. Dessa vez, não mais nas alturas, mas em solo firme, através das mãos de seus filhos Zequinha Albano e João Albano e de seu irmão Albano Filho (Albaninho). Assim surgem as majestosas portas da Catedral.
Foi em uma pequena oficina construída por Quincas Albano, em sua residência, na Avenida Getúlio Vargas, que João, Zequinha e Albaninho cortavam, talhavam e esculpiam a madeira. O objetivo era que as portas da catedral tivessem o mesmo desenho e a mesma arte das portas da Igreja de São Benedito, em Teresina-PI, a pedido do Padre Madeira, pároco da época. A pequena e desbotada fotografia das mesmas (posteriormente ampliada por eles em papel-madeira e riscada na madeira) era a única imagem de que dispunham para servir de base para o projeto grandioso. Mestre Quincas foi incisivo ao indagar: “Vocês serão capazes de fazer apenas olhando o retrato?”
Basta olhar para as 12 (doze) esplendorosas portas da Catedral de Nossa Senhora dos Remédios para obter a resposta. São 12(doze) primorosas obras de arte talhadas e esculpidas à mão e canivete por esses jovens artistas, sendo nove laterais e três frontais. Cada uma carrega consigo “almofadas” com desenhos artísticos – 168(cento e sessenta e oito) no total – que certamente ocuparam, em sua confecção, boa parte dos tempos de juventude desses moços, entusiasmados em sua arte.
Ao Mestre Quincas(in memoriam), aos seus filhos Zequinha e João e ao seu irmão Albaninho (in memoriam), a nossa gratidão pelo empenho, dedicação e contribuição em levar a belíssima Catedral de nossa Senhora dos Remédios ao posto de Segunda Maravilha do Piauí.
Mestre Quincas foi responsável também por obras como o Círculo Operário de Picos (do qual foi Vice-Presidente, no período de 1952 a 1954); a Catedral de Nossa Senhora dos Remédios; a SOCIEDADE INDÚSTRIA DE ALGODÃO E ÓLEO LTDA. (USINA ALGODOEIRA) onde hoje funciona o Armazém Nordeste, em frente ao Terminal Rodoviário Zuza Baldoíno; Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB; residência do Sr. João de Deus Neto, residência do Bispo (hoje Centro Pastoral Diocesano), o prédio onde abriga a loja do Sr. Almir Sá, antigo prédio da República dos Bancários do Banco do Brasil (na Praça Félix Pacheco), o prédio da antiga farmácia do Dr. José Carlos(hoje, Lojão São Pedro), dentre outras mais.
Fonte: Documentário Quincas Albano/Riachãonet